segunda-feira, maio 30, 2011

domingo, maio 29, 2011

como tudo deve ser*

organizar
as coisas
todas

quanto tudo estiver
em seu lugar
saberemos
o que falta
e o que sobra

e então,
só então,
agiremos

http://escuchameporra.blogspot.com

sexta-feira, maio 27, 2011

não sei aonde está
então
conheço o verdadeiro
da palavra

desamparo

quando decide
caminhar o que é
desconhecido
para mim

(o vento assombra as árvores)

e ainda assim
estado comum:

as ruas e avenidas
ou estar parado

pudesse, fumaria mil cigarros

para terminar
a ausência das mãos
o intervalo entre ter e não
esse calor que apenas sai
em fumaças

apenas sai, não entra:

desamparo.

quinta-feira, maio 26, 2011


É difícil distinguir o real daquilo que sinto.
Eu tento me mover até um ponto no tempo
em que o estado das coisas seja um estado de espírito.
Tantas vezes quero parar
e tentar entender um pouco
isto que parecem ser os seus pensamentos.
Alguns deles são seus mesmo,
outros invenção minha.
Não há uma razão lógica para a tristeza.
Nada está latejando através dos dias.
Não é bom dizer que você vai ser sempre minha.
Essas piadas que nunca tem controle.
Eu sei que você está na minha vida
e a sensação de que o que é bom pode se repetir é suficiente.
Eu tenho essa mania de imaginar
cada razão para que tudo dê errado.
Cada quilômetro que ando vale por cinco
e tudo no caminho pode apresentar uma cara falsa,
cada assassinato permanecer impune.
Esse tipo de queda mantém
a saudade constante do que passou,
do que pode ser,
do que é.

quarta-feira, maio 25, 2011

Eu queria que fosse tudo diferente
queria que houvesse seu carinho
que eu tivesse você como espelho
da minha dedicação, sonhos e zelo

Você não seria só uma possibilidade
seria meu abraço quente
meus domingos cheios de mimos
meu ciúme sem fundamento mas bonitinho

Se pelo menos tivesse havido uma chance
também poderia ter havido o melhor beijo
ao lado da maior batida de coração
e dos olhos que mais demoram a abrir

Mas você, que nem culpa tem
preferiu escolher outros braços
e eu fico aqui com meus versos bobos
que, incansáveis, ainda me toleram

(Luiz Guilherme Amaral)

sexta-feira, maio 20, 2011

seus grãos de beleza



estou apaixonando-me
                repetidamente
pelas pequenas coisas

em você.

diria: coração em loop.

grains de beauté nas suas costas:
                que eu não enxerguei antes dos fins

novos caminhos
                para minhas mãos minha língua

para eu chegar em casa.

quarta-feira, maio 18, 2011

Eu entendo você. É que, daí de cima, onde você pode ver tudo, torna-se muito fácil ser quem você é. Porque, daqui de baixo, eu sou apenas um cara preocupado com coisas chatas e que carrega uma bolsa cheia de palavras que, de vez em quando, tomam a direção dos seus ouvidos. Não acredito, porém, que elas possam te arrebatar, já que, para você, eu sou muito pouco. Seu silêncio e passividade delatam isso. Talvez eu seja pouco. Talvez eu seja um voucher para situações sem calor. O que me agride é a falta de honestidade, pois eu tanto anseio e tão pouco recebo que às vezes penso que é porque não mereço. Talvez eu não mereça, mesmo. Há tantas pré-configurações para quem devemos ser, que devemos fazer, quem devemos olhar... É porque eu não faço parte do padrão contemporâneo. Você não sabe o que é passar despercebido ou não chegar onde se quer. Porque você tem tudo. Você tem dúzias de admiradores ao seu redor, construindo degraus com pedras ao ver-te andar, e eu sempre fui péssimo em competições. Jamais competiria com todos eles. Porque eu sou um mau competidor da minha própria equipe. Eu sou a largada a partir dos boxes. É por isso que eu te entendo. Eu racionalizo tanto as coisas que faço-as perder a magia. Eu sei tão claramente qual é meu lugar neste universo que não te culpo por não ter o menor interesse em mim ou nas coisas que levo comigo. Eu devo ser finito para seus anseios. Eu não devo ser quem você, ao botar a cabeça no travesseiro, cria situações dentro da mente. Mesmo quando você lê o que eu penso e diz que de alguma forma se encantou, não deve ser perene. São palavras que criam um choque instantâneo, mas indignas de serem levadas adiante, já que seu mundo é perfeito demais para ser tatuado com palavras incrustadas de vazios. São sábados sem sol. Eu e meus planos por vezes ocupam um espaço que te incomoda e você não entende que, por trás dessa enxurrada de dúvidas e constatações, existe apenas a vontade de ser reconhecido como digno de ocupar um pedaço do seu coração. Mas isso não é para pessoas como eu. Porque eu e minhas pilhas de cadernos e palavras somos indignos de ter a atenção de alguém tão especial. É por isso que eu sou meio-termo. Porque eu me visto meio-termo, alimento-me meio-termo e ando meio-termo. E não importa se a população é de dois mil ou dois milhões, não há encaixe para mim. Hoje eu sou alguns bons anos de experiência, tropeços e levantes, e, ainda assim, não há espaço suficiente para que eu possa dar alguma contribuição. Porque eu não sou válido de compartilhamento. Ao meu lado, tanto faz. Há tantas coisas na sua vida que fazem mais sentido e que criam um espectro mais bonito. Eu tenho meus valores, algum talento e tantos sonhos... Indivisíveis como eles também é a necessidade de que eu esteja. Porque nada em mim é suficiente para que você sinta plenitude. Não há atributos suficientes em mim para que você esteja confortável e vislumbre algo mais completo para sua vida. Tudo é muito óbvio como olhar no espelho e ver que simplesmente não há como ser representativo para você. Não há nada em mim que possa te dar algum brilho nos olhos ou dar-te algum orgulho simplesmente porque suas expectativas são muito altas e, aqui embaixo, a única coisa que você vai encontrar são vontades de deixar um sorriso. Mas eu entendo você. E eu também me entendo. É por isso que eu aceito esta minha plena incapacidade de fazer você sonhar. Porque eu sou um dispositivo pontual: se você precisa, recorre; se não precisa, não há motivos para dirigir-se a mim. Ainda que eu traga nos meus escritos todas as perfeições que você sempre esperou ouvir mas não havia quem as proferisse, ainda assim torna-se mais válido não tê-las por lembrar de onde elas vieram. Não há a necessidade, portanto, de ensaiar alguma apropriação. Entendo-me tão bem que entendo você por saber que nada do que está aqui pode ser bom para quaisquer cinco minutos da sua vida. É sempre uma pena, eu sempre serei compreensível e o desapontamento comigo mesmo sempre produzirá conjecturas que servem para situações alheias. A certeza é só a de que eu não sou merecedor do seu mundo, mas não por exigência sua, e sim por improbidade minha. E corro o sério risco de assinar minha própria derrota por desmascarar-me de forma tão latente assim, que você provavelmente chamará de "um surto de um idiota que não sabe ser agradável ou simplificar as coisas". Talvez você esteja certa, sim. Eu passarei com a cabeça baixa diante da verdade, porque é o que me compete. Daqui de baixo. Observando-te quando me for a hora de levantar os olhos.

segunda-feira, maio 16, 2011

em tarde ser

Nesta tarde
em que o sol veio tarde
eu o espero!
(espero que você não tarde)

quinta-feira, maio 12, 2011



Apenas uma vontade,
uma idéia de sair e estar com você.

Dia após dia escapando à tristeza,
o nó na garganta.

É estranho precisar desses momentos,
longe da balbúrdia das coisas ?

Você e eu, quietos aqui.

Passando o tempo, deixando estar.

Um dia tão quente, cheio de clamores.

O mundo correndo lancinante.

Você e eu,
você e eu e as árvores e o vento
Lá fora tudo passando.


quarta-feira, maio 11, 2011

Quando nós namorávamos, brigava muito com meu mau humor porque minha definição de "sua felicidade" é saber que você deveria sempre sorrir comigo. Portanto, era comum você me ver com uma antologia debaixo do braço, ou um caderno em frangalhos pela constante manipulação, mas com versos e mais versos com seu nome e seu perfume.

Quando nós namorávamos, havia um consenso de que se divertir era melhor que discutir. Por mais que não houvesse nada a fazer, só de ficar deitado com a barriga para cima já era um divertimento. Mas, mesmo quando entrávamos em alguma discussão, éramos democráticos. É impossível não haver algo que não incomode, seja uma atitude ou uma mania, mas sabíamos admitir erros e consertá-los. E até mesmo respeitá-los, afinal, sabemos o quanto a individualidade é importante.

Quando nós namorávamos, não éramos somente namorados, mas camaradas. Claro que podíamos contar um com o outro. Numa situação mais difícil (aqueles fins de semana sem grana para sair) ou quando nem sabíamos por onde começar de tantas coisas a fazer, nós preferíamos estar juntos. Nossa obviedade de vida era estar juntos quando havia sol e chuva, porque, ora!, trabalhamos tanto e mal nos falávamos! Não era justo que qualquer bobagem impedisse-nos de ter um fim de semana. E, mesmo com as brechas durante a semana, só queríamos aproveitar.

Quando nós namorávamos, éramos muito carinhosos. Você sempre dizia que meu ponto forte era minha gentileza e eu adorava dizer como você iluminava todos os lugares onde aparecia. Acho que foi esse respeito mútuo e essa admiração que nos fez ser tão colados um no outro. Lembro-me da cara que você fez quando eu abri a porta do carro para você entrar. "Nunca me fizeram isso", você disse. E éramos tão interessantes um para o outro que conseguíamos conversar por horas a fio sem dar um beijo na boca sequer. Esquecíamos disso! Era tanto assunto que virávamos a madrugada...

No entanto, a única parte que é mentira nesta história toda é que nós ainda não namoramos. Mas eu quero que você seja minha namorada para que tudo isso aconteça. Agora você já sabe como eu te vejo e como eu espero que você me veja. Não sou adepto da predestinação, mas não posso me furtar a reconhecer que nós nascemos para ficar juntos. No sol, na chuva, no silêncio ou onde quer que estejamos.

domingo, maio 08, 2011

high-cais*

High-cai 1

I'm so sorry
but I could not
reach the sky


Poema de outono

Ah, folhinha...
Soltos no vácuo,
chegaríamos juntos!


Senvergonheza

sem verdade
mas com bagagem, muita história pra contar:
sem vergonha

sábado, maio 07, 2011

haikinhos

Estar sempre alerta

encontrar a vida

De guarda aberta

--

Se insiste na fúria cega

Por que tem olho

O furacão?

--

Show de mágica

Sob a luz dos holofotes

Duas caras-metades

Separadas a serrote

--

Diversão ao cubo

Encontrar 3 outros lados

Pra qualquer lado de tudo

quarta-feira, maio 04, 2011

I

Por você, grande afeto
sobre mim, um teto
de sonhos e desejos

II

pensei "a vida é só minha"
mas essa saudadinha
é dividir-me em "eu e você"

III

Em vão medir desejo!
o tempo de cada beijo
é o tique sem taque do relógio

(Luiz Guilherme Amaral)

segunda-feira, maio 02, 2011

meus haicais preferidos

brincando de haicai

baila a rima
e paira:
bailarina

(do livro O texto sentido)




hai-quase

Lua alta e brilhante
minha alma se extenua
Se me falta o amante

domingo, maio 01, 2011

HAIKAIS DE CONTO DE FADAS

I

Susto na cama
Pensava em princesa
Era mulher-dama.

II

-Beija o sapo.
Ela beijou.
Fez-se poeta, não príncipe.